JUSTIFICAÇÃO
Como ultrapassar a justiça dos fariseus
Como o povo obteria justiça superior a dos fariseus, se os fariseus pautavam as suas práticas no que a religião judaica apresentava como melhor? Como alguém do povo, que era rotulado como multidão maldita pelos lideres da religião judaica, seria capaz de obter justiça superior a de um fariseu semelhante a Saulo, que vivia conforme os preceitos da mais severa seita do judaísmo "Sabendo de mim desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu" ( At 26:5 ); "Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita" ( Jo 7:49 ).
"Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus" ( Mt 5:20 )
Introdução
Como exceder a justiça dos escribas e fariseus, se os escribas e fariseus eram religiosos considerados justos aos olhos do povo? ( At 26:5 ) Como o povo à época de Cristo haveria de adquirir uma justiça superior a dos escribas e fariseus, se eles eram referência moral, religiosa e de serviço a Deus?
Observe o que um fariseu disse enquanto orava: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” ( Lc 18:11 -12 ).
Um jovem príncipe, quando interpelado acerca dos mandamentos, disse: "Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?" ( Mt 19:20 ).
Acerca dos fariseus, Jesus disse: "Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens..." ( Mt 23:28 ).
Daí a pergunta: como o povo obteria justiça superior a dos fariseus, se os fariseus pautavam as suas práticas no que a religião judaica apresentava como melhor? Como alguém do povo, que era rotulado como multidão maldita pelos lideres da religião judaica, seria capaz de obter justiça superior a de um fariseu semelhante a Saulo, que vivia conforme os preceitos da mais severa seita do judaísmo "Sabendo de mim desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu" ( At 26:5 ); "Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita" ( Jo 7:49 ).
Como adquirir justiça maior que a dos fariseus, se as suas práticas como jejuns, orações, sacrifícios, dízimos, moral, comportamento, religiosidade, nacionalidade, etc., não lhes concedeu o direito de entrarem no reino dos céus?
Para alcançar justiça superior, seria o bastante redobrar as práticas dos escribas e fariseus? Redobrar os jejuns, as orações, os sacrifícios, os dízimos, etc., concederia justiça superior?
O povo e os fariseus
Aos olhos do povo, os escribas e fariseus eram tidos por justos "Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade" ( Mt 23:28 ), entretanto, apesar da conduta social ilibada, Jesus vetou o reino dos céus aos fariseus e escribas "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus" ( Mt 5:20 ).
Ao demonstrar que o reino dos céus estava vetado aos escribas e fariseus e exigir do povo uma justiça superior aos mestres em Israel, Jesus, de modo polido, estava dando a entender aos seus ouvintes que, tanto eles quanto os escribas e fariseus estavam destituídos do reino dos céus.
Se os fariseus não podiam entrar no céu, o que seria do povo? E o pior: como e onde obteriam uma justiça superior? O que era necessário fazer para ter direito a entrar no reino dos céus? Ser descendente da carne de Abraão não bastava? Ser israelita, prosélito, circuncidado, dizimista, guardar o sábado, ir ao templo, sacrificar, etc., não era suficiente?
O que fazer?
Para compreendermos o que Jesus exigiu do povo no Sermão da Montanha, é de grande ajuda comparar Mateus 5, verso 20 com João 3, verso 3:
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” ( Mt 5:20 ), e;
“Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” ( Jo 3:3 ).
Escolhemos João 3, verso 3, para compararmos com Mateus 5, verso 20 por causa da parte ‘b’ dos dois versículos:
“... de modo nenhum entrareis no reino dos céus” ( Mt 5:20 );
“... não pode ver o reino de Deus” ( Jo 3:3 ).
Através dos dois versos, verifica-se que, para entrar no reino dos céus é necessário: a) nascer de novo, e/ou; b) obter justiça que exceda a dos escribas e fariseus.
Como nascer de novo?
O apóstolo João deixa claro que, todos os que creem em Cristo recebem poder para serem feitos (criados) filhos de Deus ( Jo 1:12 ). Ora, para receber poder é imprescindível crer que o Filho do homem, o Jesus de Nazaré, desceu do céu ( Jo 3:13 ).
Crer em Cristo como o Verbo que se fez carne é o mesmo que recebê-Lo “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” ( Jo 1:12 ). Que ‘poder’ é concedido aos que creem? Ora, o poder é o evangelho, como diz o apóstolo Paulo: “Não me envergonho do evangelho, que é poder de Deus” ( Rm 1:16 ).
Recebe a Cristo quem crê que o Filho do homem tinha que ser crucificado ( Jo 3:14 ); recebe quem crer nas palavras proferidas pelo Filho do homem ( Jo 3:15 ); recebe quem crer que Deus entregou o seu Filho Unigênito ( Jo 3:16 ); recebe quem crer que o Filho do homem foi entregue para salvar o mundo, e não para condená-lo ( Jo 3:17 ); recebe a Cristo quem crer que a condenação é rejeitar Cristo ( Jo 3:18 ), e; recebe a Cristo quem crer que praticar a verdade é o mesmo que estar em Cristo ( Jo 3:19 ).
Sobre esta verdade disse o apóstolo Paulo: “Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” ( Gl 3:25 -27).
Uma análise apurada demonstra que, para nascer de novo é necessário crer na mensagem do evangelho, as boas novas anunciadas por Cristo, que é semente incorruptível e poder de Deus ( 1Pe 1:3 e 23 ). Não basta crer em milagres, no impossível, em Deus, antes é necessário crer em Cristo como o enviado de Deus que tira o pecado do mundo ( Jo 14:1 e 11; Tg 2:19 ).
Como Deus sendo justo justifica o ímpio?
Todos os questionamentos surgem porque falta a compreensão de como se dá a justiça de Deus. Como Deus justifica o ímpio ( Rm 3:26 ), se Ele mesmo afirmou que jamais justifica o ímpio ( Ex 23:7 ). Se é reto que a justiça condene o culpado, um juiz que absolve ou justifique o injusto não age injustamente?
Uma das inestimáveis doutrinas do Cristianismo é a justificação. Tal doutrina foi abordada pelo apóstolo Paulo quando escreveu aos cristãos em Roma, porém, é mal compreendida por muitos cristãos.
A incompreensão da doutrina da justificação é nítida desde os primeiros pais da igreja e, assim continuou no período da Idade Média.
Com o advento da reforma, muitos pensam que houve um retorno aos princípios do evangelho e, que daí por diante o conceito de justificação é o mesmo exposto pelos apóstolos. Grande equivoco!
Quanto ao sentido do termo traduzido por ‘justificar’ no Antigo Testamento, na sua maioria o erro decorre da conotação moral e ética que atribuem ao termo. Porém, a vertente mais perniciosa é aquela que vê no termo aspectos forense, como quando uma pessoa comparece perante um tribunal e é declarada judicialmente justa por ter uma vida coerente com as exigências legais, pois o sentido neotestamentário do termo “justificar” não guarda relação com a justiça dos tribunais, pois a justiça de Deus se dá através do seu poder.
O apóstolo Paulo é claro ao dizer que o evangelho de Cristo é poder de Deus para salvação de todo o que crê, pois no poder de Deus se descobre a justiça de Deus ( Rm 1:16 -17). Jesus ao curar um paralítico disse: "Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa" ( Lc 5:24 ). Ou seja, a justificação se dá pelo poder de Deus, sem qualquer referencia a um tribunal.
A justiça forense não justifica os réus, somente emitem uma sentença de que aquela pessoa é inocente ou culpada, o que é diferente de declarar alguém justo. Num tribunal verifica-se somente uma conduta isolada, ou seja, não se analisa a vida de quem é julgado, o que inviabiliza declarar alguém justo ou injusto.
Ao pensarmos em um tribunal divino, temos que considerar que tal tribunal foi estabelecido no Éden, quando Adão pecou. Naquele momento ele foi julgado e apenado com a morte, separação, alienação de Deus “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” ( Rm 5:18 ).
Naquele evento todos os homens pecaram. Naquele ‘tribunal’ toda a humanidade tornou-se destituída da glória de Deus ( Rm 3:23 ; 1Co 15:22 ). Como a pena emitida no ‘tribunal’ do Éden poderia ser aplicada a Cristo se a pena não pode passar da pessoa do transgressor? Como a justiça de Cristo pode ser atribuída por Deus aos culpados?
Naquele tribunal houve uma única sentença: condenação!
E como uma pessoa condenada pode ser declarada justa por Deus se a justificação bíblica não é forense?
Por causa destas indagações, muitos teólogos, ao especular sobre a natureza da justificação consideram que o homem justificado não se torna justo, antes só é declarado justo. Ou seja, embora não seja justo, Deus faz uma declaração e trata tal homem como se fosse justo, mas que na realidade não é justo. Está é a teoria predominante nos meios acadêmicos que se firmou desde a reforma com Lutero.
Para os acadêmicos, tornar justo e declarar justo são afirmações distintas, ao afirmar que Deus declara o homem justo sem torná-lo justo.
É possível Deus verdadeiro declarar uma mentira? Não é injusto tratar o injusto como se fosse justo?
Mesmo que se considere que ser declarado justo não possui relação direta com ser justo, não se pode ignorar que a declaração procede de Deus que, além de ser justo, vela sobre a sua palavra para cumprir e, a sua palavra jamais volta vazia. Se Deus declarar justo o homem que não é justo comete injustiça, assim como também se mostra impotente para cumprir sua palavra, que seria inócua.
Portanto, em conformidade com Antigo Testamento, justificar implica na certeza de que a pessoa é inocente e, depois, declarar o que de fato é a verdade: que a pessoa é isenta de culpa, justa, que se porta conforme a lei. Se isto era exigido dos tribunais humanos que se dirá de Deus? ( Dt 25:1 )
Na Reforma protestante, Lutero procurou reafirmar um sentido forense para o termo ‘justificação’, considerando que a ‘justificação’ seria um ‘direito legal’ de se ter comunhão com Deus. Ele apresentou esta proposta para fugir da afirmação de que a justificação seria uma justiça infundida no homem. Mas, de onde tal direito ‘legal’ surgiu para que o homem lançasse mão dele?
Todos os questionamentos surgem porque falta a compreensão de como se dá a justiça de Deus. Como Deus justifica o ímpio ( Rm 3:26 ), se Ele mesmo afirmou que jamais justifica o ímpio ( Ex 23:7 ). Se é reto que a justiça condene o culpado, um juiz que absolve ou justifique o injusto não age injustamente?
Millard J. Erickson, em sua Introdução à Teologia sistemática, define que a justificação é um ato forense de imputação da justiça de Cristo ao crente’, mas que ‘não é de fato uma infusão de santidade no indivíduo’. Ele arremata dizendo que ‘não é uma questão de tornar a pessoa justa ou de alterar a sua condição espiritual’ Erickson, Introdução a Teologia Sistemática, p. 409.
Neste mesmo sentido Scofield diz que ‘o pecador crente é justificado, isto é, tratado como justo (...) A justificação é um ato de reconhecimento divino e não significa tornar uma pessoa justa...’ Scofield, Bíblia de Scofield com referencias, Rm 3:28, p. 1147.
O Dr. Emery H. Bancroft diz que o método da justificação é divino e não humano, visto que o homem só pode justificar o inocente e Deus justifica o culpado, sendo que ‘Deus justifica à base da misericórdia’ e o ‘homem justifica a base do mérito’. Por fim, ele alega que o homem precisa ser salvo do seu caráter, esquecendo-se que não foi o caráter que estabeleceu a alienação de Deus, mas o pecado. Bancroft, Teologia Elementar, p. 256.
Certo é que, quanto ao fundamento, a justificação tem por base a justiça de Cristo, pois o homem é incapaz de promover a sua justificação. Embora seja verdadeira a premissa de que Cristo se fez justiça para a humanidade, persiste a pergunta: como se processa a justiça de Deus ao justificar o injusto, sendo Ele absolutamente justo?
A resposta encontra-se no evangelho, ou seja, no poder de Deus.
A necessidade de justificação se deu a partir da queda de Adão. Com a desobediência de Adão o pecado entrou no mundo e a humanidade herdou uma natureza alienada de Deus, uma natureza separada e, consequentemente, toda a humanidade é injusta desde seu nascimento ( Sl 51:5 ; Sl 58:3 ; Gn 8:21 ).
A justiça é reta: a alma que pecar esta mesma morrerá ( Ez 18:20 ). De igual modo, a bíblia deixa claro que todos pecaram e foram destituídos de compartilhar da comunhão com Deus ( Rm 3:23 ). Neste sentido, todos devem ser assalariados com a morte, pois a pena não pode passar da pessoa do transgressor e Deus jamais declara o ímpio justo.
Embora Deus seja misericordioso, a sua justiça não tem por base a misericórdia, e sim o seu poder. Como a todos os homens está determinado morrerem uma só vez, vindo após isto o juízo de obras que se realizará diante do grande trono branco, juízo onde ninguém será justificado tendo em vista a condenação do Éden "E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo..." ( Hb 9:27 ; Ap 20:12 -13 ), o evangelho é a providencia divina para que o homem seja apenado com Cristo, e não com o mundo.
Quando o homem crê em Cristo conforme o que as Escrituras dizem, naquele instante toma sobre si a própria cruz e segue após Cristo "E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim" ( Mt 10:38 ). Ao crer, o homem torna-se participante da carne e do sangue de Cristo, momento que lhe é comunicado as aflições, vitupérios e a morte de Cristo "Para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte" ( Fl 3:10 ).
Quem crê sai juntamente com Cristo ao arraial e leva sobre si o vitupério de Cristo, pois é crucificado e morto juntamente com Cristo "Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério" ( Hb 13:13 ). Quando o homem é morto com Cristo, Deus executa justiça e, consequentemente a sua palavra, pois a alma que pecar esta mesma morrerá, ou seja, a penalidade não passa da pessoa do transgressor, pois quem está morto está justificado do pecado.
Quando o homem crê em Cristo, ou seja, admite (confissão) que Ele é o Filho do Deus vivo, é porque também admitiu (confissão) que é pecador. Neste instante o homem é crucificado, morre e é sepultado com Cristo “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte” ( Rm 6:3 – 4).
Ou seja, a justiça exigida por Deus é estabelecida, pois a pena prevista não passa da pessoa do transgressor. Embora a morte física de Cristo tenha sido substitutiva, contudo a cruz, a morte e o sepultamento não o são, pois os que creem são participantes da circuncisão de Cristo, que é o despojar de toda a carne ( Cl 2:11 ).
Através da morte de Cristo, o homem culpado que surgiu através da semente de Adão é apenado com a morte, de sorte que Deus jamais justifica o ímpio. A alma que pecar, esta mesma morrerá e, através da morte com Cristo a determinação divina se concretiza. A ira divina requer juízo e a sua misericórdia não impede que esse juízo seja executado: o homem precisa morrer com Cristo.
É por isso que o apóstolo Paulo diz: "Porque aquele que está morto está justificado do pecado" ( Rm 6:7 ), pois o velho homem foi crucificado, morto e sepultado conforme merecia. O homem gerado segundo a semente corruptível de Adão jamais receberá de Deus a declaração de justo. Deus jamais justifica o ímpio, pois ao ímpio não há paz, antes espada, morte.
Demonstramos que Deus é justo, agora falta demonstrar como Ele é justificador dos que creem em Cristo "Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus" ( Rm 3:26 ).
Quando o pecador morre com Cristo Deus é justo, quando ressurge um novo homem dentre os mortos com Cristo pelo poder de Deus, Deus é justificador! Sem contradição alguma! Justo e justificador é o Senhor!
No momento que é criado um novo homem, Deus o declara justo, livre de culpa, pois o novo homem é criado em perfeita justiça e santidade ( Ef 4:24 ). A velha criatura jamais é declarada justa, mas aqueles que recebem poder para serem feitos filhos, estes Deus os declara justos.
Quando Deus olha o homem ressurreto com Cristo, não precisa olhar para Cristo para declará-lo justo, visto que ao olhar para o cristão Deus vê um dos seus filhos, gerado segundo a palavra da verdade. Deus só declara justos os nascidos de novo e, para os de novo nascidos, eis que tudo se fez novo.
Quando Deus anuncia que jamais justifica o ímpio, temos que considerar que Ele se refere ao homem gerado de Adão. Quando lemos o apóstolo Paulo afirmando que Deus justifica o ímpio temos um novo contexto, pois ele faz referencia a fé que o ímpio professa “Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” ( Rm 4:5 ).
A bíblia demonstra que Jesus ressurgiu para a nossa justificação "O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação" ( Rm 4:25 ), pois ao ressurgir com Cristo, o homem é criado justo e declarado justo, pois tal declaração implica em uma atestado divino de que a nova criatura em Cristo de fato foi criada em verdade e justiça , portanto, é justa.
Assim como o pecado de Adão foi imputado à humanidade por causa da semente corruptível, assim também a justiça de Cristo é imputada ao homem em decorrência da semente incorruptível, pois na regeneração os homens passam a ser participantes da natureza divina, sendo justos e perfeitos como o é o Pai celeste quando ressurgem dentre os mortos com Cristo ( Rm 1:4 ).
O meio pelo qual o homem se apropria da justificação é somente pela fé. Quando dizemos que é pela fé, não quero dizer com isso que é a crença do homem que opera tal obra, antes é a fé que havia de se manifestar, Cristo, o poder de Deus, o evangelho. Como já mencionamos. A justificação se dá em decorrência do poder de Deus, ou seja, basta confiar no poder de Deus contido no evangelho "Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos" ( Cl 2:12 ).
É por isso que Jesus perdoou os pecados do paralitico com base no seu poder, visto que a justificação se dá através do poder que trás à luz o novo homem, e não conforme muitos apregoam, de que a justificação se dá através de princípios forenses "Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?" ( Rm 9:21 ).
O mesmo poder que foi manifesto em Cristo ressuscitando-o dentre os mortos é o poder que opera naqueles que creem na força do poder de Deus, que é o evangelho. Todos quantos já ressurgiram são de fato justificados, pois além de serem declarados justos, também foram feitos justos "E qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos,segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus" ( Ef 1:19 -20 ; 1Co 1:18 e 24).
Aquele que está 'morto' está Justificado
A pena não pode passar da pessoa do transgressor, ou seja, outra pessoa não pode ser punida em lugar do transgressor. A determinação divina é contundente: a alma que pecar, esta deve morrer! O que fazer da realidade seguinte: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” ( Rm 3:23 ). Como todos pecaram, é certo que todos devem morrer.
Aquele que está 'morto' está Justificado
Já vimos quem são os justificados (nós) ( Rm 6:2 ).
Também vimos qual a melhor idéia a se traduzir por justificação. Agora veremos qual o 'objetivo' de estarmos mortos em Cristo e 'porquê' os mortos para o pecado são justificados.
Este versículo contém três afirmações a respeito de nosso Deus: “Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” ( Rm 3:26 ).
Jesus é a justiça de Deus dada aos homens com o evidente propósito de que Deus seja justo e justificador daqueles que crêem em Cristo.
O versículo 26 de Romanos 3 aponta os motivos pelos quais Deus revelou Cristo aos homens:
a) Para demonstrar a sua justiça de Deus neste tempo presente;
b) Para Ele ser justo, e;
c) Para Ele ser justificador.
A primeira afirmação demonstra que Cristo é a Justiça de Deus neste tempo presente! Sem contradição alguma.
“Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas” ( Rm 3:21 ).
Neste tempo presente, ou seja, o agora, Cristo se manifestou aos homens, conforme o que foi dito pelos profetas e pela lei. Ele é a justiça de Deus concedida ou manifesta aos homens.
Para tomar posse desta justiça, todos os homens devem crer em Cristo, sem exceção (judeus e gentios) ( Rm 3:22 ).
Porém, surge um entrave: como Deus sendo Justo e Verdadeiro justifica o pecador?
De acordo com a lei, a justiça e a retidão temos:
- Deus não justifica o ímpio ( Ex 23:7 );
- A alma que pecar está morrerá ( Ez 18:20 );
- Deus não tem o culpado por inocente ( Na 1:3 );
A pena não pode passar da pessoa do transgressor, ou seja, outra pessoa não pode ser punida em lugar do transgressor.
A determinação divina é contundente: a alma que pecar, esta deve morrer! O que fazer da realidade seguinte: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” ( Rm 3:23 ). Como todos pecaram, é certo que todos devem morrer.
Deus não tem o culpado por inocente, e de que maneira ele justifica o homem sem ferir a sua própria palavra?
Se a pena não pode passar do transgressor, como Jesus morreu no lugar do pecador?
Se considerarmos as quatro premissas acima, só é possível declarar alguém justo, quando este alguém nunca tenha cometido pecado.
Quem cometeu pecado deve ter certa a sua morte. Quem cometeu pecado não será tido por inocente. A quem cometeu pecado só resta a punição, pois outrem não pode sofrer a pena em seu lugar.
Como declarar justo o pecador sem ferir as premissas acima?
“A alma que pecar, essa morrerá. O filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele” ( Ez 18:20 );
“O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente...” ( Na 1:3 ).
Como a justiça de Deus é imputada ao homem, se a justiça do justo ficará sobre o justo e a impiedade do ímpio sobre o ímpio? Como Cristo levou sobre si os pecados da humanidade, se o filho não pode levar a iniqüidade do Pai, e nem o Pai a iniqüidade do filho?
Esta pergunta somente será respondida quando entendermos plenamente a doutrina da justificação em Cristo.
O justo viverá da fé
O justo viverá da fé, ou seja, a fé que havia de se manifestar e, que agora pregamos ( Rm 10:8 ). Todos que ressurgiram com Cristo é porque vivem da fé, e o profeta Habacuque dá testemunho de que os que vivem pela fé são justos.
“Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” ( Rm 4:5 )
É contundente a exposição do apóstolo Paulo quando afirma, contrariando o que expunha a lei, que "Deus justifica o ímpio" ( Rm 4:5 ). Baseado em quê Deus justifica o ímpios? Como é que Deus sendo justo pode declarar justo o injusto? Como fazê-lo sem comprometer a sua própria justiça?
A resposta é simples: Deus justifica gratuitamente os pecadores por sua maravilhosa graça! Apesar de a resposta ser simples, a pergunta persiste: como Ele faz isso? A resposta também é simples: pela fé “... para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” ( Gl 3:24 ).
Além de Deus justificar o ímpio, certo é que o homem é justificado pela fé “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” ( Rm 5:1 -2).
Deus justifica por causa da confiança que o homem deposita n'Ele? Seria a crença do homem o ente justificador?
A resposta encontra-se em Romanos 1, versos 16 e17: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deusde fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé” ( Rm 1:16 -17).
Embora no Antigo Testamento, repetidas vezes Deus diz aos juizes israelitas que eles deveriam justificar os íntegros e condenar os ímpios, e declara acerca de si mesmo: "… não justificarei o ímpio" ( Ex 23:7 ), o apóstolo Paulo se socorre de Habacuque que diz: 'O justo viverá da fé', para demonstrar que Deus justifica o ímpio!
Através da observação que o apóstolo Paulo faz de Habacuque, fica evidente que a fé não refere-se à confiança do homem, antes diz de Cristo, a fé que havia de se manifestar “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar” ( Gl 3:23 ).
Qual a fé que haveria de se manifestar? O evangelho de Cristo, que é o poder de Deus, é a fé manifesta aos homens. O evangelho é a fé pela qual os cristãos devem batalhar ( Jd1:3 ). A mensagem do evangelho é a pregação da fé ( Gl 3:2 e 5). O evangelho é fé, por meio do qual a graça foi revelada “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, édom de Deus“ ( Ef 2:8 ). O evangelho não procedeu de homem algum, antes é dom de Deus "Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva" ( Jo 4:10 ).
Cristo é o dom de Deus, o tema da pregação da fé, por quem o homem tem entrada a esta graça. Por isso, quando a bíblia diz que sem fé é impossível agradar a Deus, tem-se que, a fé que agrada a Deus é Cristo, a fé havia de ser revelada, e não, como muitos pensam, que é a confiança do homem ( Hb 11:6 ).
O escritor aos hebreus, no verso 26 do capítulo 10 demonstra que não há sacrifício após o recebimento do conhecimento da verdade (evangelho) e, que, portanto, os cristãos não podiam rejeitar a confiança que possuíam, que é produto da fé (evangelho) ( Hb 10:35 ), visto que, após fazerem a vontade de Deus (que é crer em Cristo), deviam ter paciência para alcançar a promessa ( Hb 10:36 ; 1Jo 3:24 ).
Após citar Habacuque, o escritor aos Hebreus passa a falar daqueles que viveram pela fé ( Hb 10:38 ), ou seja, homens como Abraão que foram justificados pela fé que havia de se manifestar "Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti” ( Gl 3:8 ).
Abraão foi justificado porque creu que Deus haveria de prover-lhe o Descendente, algo impossível aos seus olhos, assim como o é aos olhos dos homens o fato de Deus justificar o ímpio “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” ( Gl 3:16 ).
Cristo é o firme fundamento das coisas que se esperam e prova das coisa que se não veem, sendo que por Ele os antigos alcançaram bom testemunho “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem. Porque por ela os antigos alcançaram testemunho” ( Hb 11:1 -2), pois o justo vive e recebe testemunho de que agradara a Deus por intermédio de Cristo ( Tt 3:7 ).
A palavra que Abraão ouviu é o que produziu a crença do patriarca, pois “Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos...” ( Rm 10:8 ), visto que “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” ( Rm 10:17 ). Sem ouvir a palavra que procede de Deus jamais haveria confiança do homem para com Deus.
O ente justificador é a palavra de Cristo, pois nela está contido o poder que torna possível Deus justificar o ímpio “A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” ( Rm 10:9 -10).
Quando o homem ouve o evangelho e crê, recebe poder para salvação ( Rm 1:16 ; Jo 1:12 ), e descobre a justificação, pois passa da morte para a vida por que creu na fé ( Rm 1:17 ), É pelo evangelho que o homem torna-se filho de Deus “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” ( Gl 3:26 ; Jo 1:12 ).
Por que o apóstolo Paulo teve coragem de afirmar que Deus faz aquilo que Ele mesmo proibiu aos juízes de Israel fazerem? Porque eles não dispunham do poder necessário! Para fazer um injusto justo é necessário poder idêntico aquele que Jesus demonstrou ao curar um paralítico após perdoar-lhe os pecados "Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa" ( Lc 5:24 ).
A fé que justifica é poder de Deus “... para que pela fé fôssemos justificados” ( Gl 3:24 ), pois quando o homem crê é batizado na morte de Cristo ( Gl 3:27 ), ou seja, toma a sua própria cruz, morre e é sepultado “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?” ( Rm 6:3 ). Ora, aquele que está morto, justificado está do pecado! ( Rm 6:7 )
Mas, todos que creem e morrem com Cristo, também confessam a Cristo conforme o que ouviu e e aprendeu “Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” ( Rm 10:9 -10).
Ora, aquele que confessa a Cristo é porque, além de ter sido batizado em Cristo, já se revestiu de Cristo. A confissão é o fruto dos lábios que só produz quem está ligado a Oliveira verdadeira “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vosrevestistes de Cristo” ( Gl 3:27 ); “Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” ( Hb 13:15 ); “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (...) Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” ( Jo 15:6 e 8).
O testemunho que Deus dá de que o homem é justo só recai sobre aqueles que, após serem sepultados, se revestem de Cristo, ou seja, somente os que já ressurgiram com Cristo são declarados justos diante de Deus. Somente aqueles que são gerados de novo, ou seja, que vivem por intermédio da fé (evangelho) são justos diante de Deus “O justo viverá da fé” ( Hc 2:4 ).
O justo viverá da fé, ou seja, a fé que havia de se manifestar e, que agora pregamos ( Rm 10:8 ). Todos que ressurgiram com Cristo é porque vivem da fé, e o profeta Habacuque dá testemunho de que os que vivem pela fé são justos.
Portanto, qualquer que não confia em suas próprias ações, antes descansa em Deus que justifica, a sua crença lhe é imputada como justiça “Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” ( Rm 4:5 ); “E creu ele no SENHOR, e imputou-lhe isto por justiça” ( Gn 15:6 ), porque ao crer o homem se conforma com Cristo na sua morte e ressurge pelo poder de Deus, sendo que o novo homem é criado e declarado justo por Deus.
A palavra do Senhor é a fé manifesta, e todos que nele creem não serão confundidos “Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido” ( Rm 9:33 ), ou seja, no evangelho, que é poder de Deus se descobre a justiça de Deus, que é de fé (evangelho) em fé (crer) ( Rm 1:16 -17).
O justo viverá de Cristo, pois de toda a palavra que sai da boca de Deus viverá o homem, ou seja, sem Cristo, que é o pão vivo que desceu dos céus, o homem não tem vida em si mesmo ( Jo 3:36 ; Jo 5:24 ; Mt 4:4 ; Hb 2:4 ).
Deus é justo e justificador
É assente entre alguns teólogos que Deus declara o homem ‘como se fosse’ justo por meio da fé em Cristo, ou seja, estabeleceram uma ressalva. Para alguns, e dentre eles destacamos o Dr. Scofield, ‘Deus declara o pecador como sendo justo’, ou seja, ele afirma que Deus ‘não torna o homem justo’.
Apalavra ‘justificação’ (Dikaiosis) quando empregada pelo apóstolo Paulo refere-se ao que é verdadeiro, da mesma forma que o salmista Davi utiliza a palavra ‘justificação’ (hitsdik) para fazer referência a Deus porque Ele é verdadeiramente Justo.
O apóstolo Paulo utiliza uma palavra grega que tem o mesmo sentido da palavra hebraica ‘justificação’ para fazer referência aos cristãos porque eles são verdadeiramente justos “...de modo que és justificado quando falas...” ( Rm 3:4 ; Sl 51:4 ). Os que crêem são de novo criados em uma condição nova e específica: em verdadeira justiça e santidade ( Ef 4:24 ).
Os termos usados no Novo Testamento para justificação, no grego, são: Dikaios (justo); Dikaiosis (justificação, defesa, reclamação de um direito), e; Dikaioo (ter ou reconhecer como justo). No Velho Testamento o termo é hitsdik, que significa declarar judicialmente que alguém está em conformidade com a lei ( Ex 23:7 ; Dt 25:1 ; Pv 17:15 ; Is 5:23 ).
Quando Deus declara que o homem é justo, ou seja, justifica, declara o que é verdadeiro, pois Deus não pode mentir.
Por que a afirmação acima? Porque é assente entre alguns teólogos que Deus declara o homem ‘como se fosse’ justo por meio da fé em Cristo, ou seja, faz uma ressalva. Para alguns, e dentre eles destacamos o Dr. Scofield, ‘Deus declara o pecadorcomo sendo justo’, ou seja, ele afirma categoricamente que Deus ‘não torna o homem justo’.
“O pecador crente é justificado, isto é, tratado como justo (...) A justificação é um ato de reconhecimento divino e não significa tornar uma pessoa justa...” Bíblia de Scofield com Referências, Rm 3:28 , pág. 1147.
Ora, Deus jamais declararia que o homem é justo, sendo que efetivamente não está na condição de justo. É inconcebível Deus declarar e tratar como justo aquele que Ele não torna justo. Como Deus poderia reconhecer algo que não é como se fosse?
Sabemos que Deus tem poder de chamar a existência as coisas que não são como se elas já fossem ( Rm 4:16 ), porém, jamais declararia como sendo justo o pecador "De palavras de falsidade te afastarás, e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio" ( Ex 23:7 ).
Se Deus não justifica o ímpio, como é possível que o pecador seja declarado justo?
Bem afirmou o apóstolo Paulo, que ‘o justificado do pecado está morto’ ( Rm 6:2 -7). Se a primeira proposição é verdadeira, a segunda também o é, visto que a segunda depende da primeira.
Desta forma a palavra ‘justificado’ traduz uma idéia verdadeira, visto que, todos que creram morreram com Cristo.
Quando o apóstolo Paulo utiliza a palavra ‘justificação’, tem em mente algo que é verdadeiro, ou seja, aquele que está morto está plenamente justificado do pecado!
Se o velho homem foi crucificado com Cristo, quem é justificado (declarado justo) por Deus?
Sabemos que Cristo foi entregue por causa dos pecados da humanidade, e que, quando crêem n’Ele, morrem e são sepultados.
Sabemos que Jesus ressurgiu dentre os mortos, e, que, com Ele os que creram ressurgiram “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus” ( Cl 3:1 ).
A ‘justificação’ (declaração de justo) recai sobre o novo homem que ressurge com Cristo dentre os mortos. Somente a nova criatura é declarada justa perante Deus, pois foi de novo criada em verdadeira justiça e santidade.
O pecador jamais será declarado justo, pois o velho homem, que é o pecador, será crucificado com Cristo “Pois sabemos isto, que o nosso velho homem foi com ele crucificado...” ( Rm 6:6 ). O pecador nunca será justificado perante Deus, antes morre através da cruz de Cristo.
O pecador que aceita o sacrifício de Cristo por meio da fé (evangelho) morre juntamente com Ele, e quando ressurge, ressurge uma nova criatura (criada) segundo Deus em verdadeira justiça e santidade. Este novo homem é declarado justo diante de Deus.
As palavras traduzidas por ‘justificar’ e ‘justificação’ significa ‘tornar justo’, ‘fazer justo’, ‘declarar justo’, ‘declarar reto’ ou ‘declarar livre de culpa e de merecimento de castigo’. Quando Deus cria o novo homem em verdadeira justiça e santidade, executa todas as ações descritas nos verbos acima.
Somente aquele que é criado justo pode receber esta declaração da parte de Deus, ou seja, só o novo homem, criado segundo Deus pode receber de Deus a declaração: este é justo.
“E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade...” ( Ef 4:24 ).
O novo homem criado por Deus, por meio de Cristo Jesus, ou seja, que ressurgiu dentre os mortos, é criado em verdadeira justiça e santidade, portanto, quando Deus o declara justo, fala do que é verdadeiro, de uma condição plena e efetiva hoje.
“Ele foi entregue por nossos pecados, e ressuscitou para a nossa justificação” ( Rm 4:25 )
“... porque aquele que está morto está justificado do pecado” ( Rm 6:7 )
Ao observar estes dois versículos, percebe-se que Jesus foi entregue por causa do pecado dos pecadores (se a humanidade não houvesse pecado, não haveria a necessidade de Cristo morrer), e ao morrerem com Ele, cumpre-se a justiça de Deus, visto que o pecador recebe o que está determinado pela justiça de Deus: a morte.
Em seguida, aquele que está morto é gerado de Deus e ressurge para a glória de Deus Pai, uma vez que, os que crêem ressurgem com Cristo. Desta forma é justificado, ou declarado justo, pois para esse fim Cristo ressurgiu dentre os mortos: ‘ressurgiu para a nossa justificação’ ( Rm 4:25 ).
Se alguém não aceitar a argumentação de que os cristãos são de fato justos, deve concluir também que Cristo não ressurgiu. Se Cristo ressurgiu, é fato que os cristãos ressurgiram com Ele, e são declarados justos.
Quando o velho homem morre com Cristo, Deus é justo. Quando Deus cria o novo homem Ele é justificador. Sem contradição alguma: Ele é justo e justificador.
A bíblia diz que todos quantos crêem em Jesus recebem poder para serem feitos (criados), filhos de Deus. O velho homem foi crucificado, morto, sepultado e dentre os mortos ressurge um novo homem. Este novo homem é declarado justo.
Paulo expressou que 'aquele que está morto para o pecado é justo diante de Deus' porque a condição de morto para o pecado é o mesmo que estar 'vivo' para Deus. Aquele que é criado de novo por meio do evangelho, que é poder de Deus para todo aquele que crê, é justificado (declarado justo), pois é uma nova criatura criada em verdadeira justiça e santidade.
Pois isso mesmo Paulo declara: “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” ( Rm 4:25 ).
O homem que é declarado justo diante de Deus não é aquele que morreu, antes o que ressurgiu dentre os mortos, ou seja, a nova criatura gerada de novo em Cristo.
Quando o apóstolo Paulo fala que aquele que está morto está justificado do pecado, tem em mente a idéia do versículo seguinte: “Pois é Cristo quem morreu, ou antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” ( Rm 8:34 ).
Quem está morto para o pecado, (ou antes) aquele que ressurgiu com Cristo foi justificado, ou seja, declarado justo perante Deus.
Alguns pensam que a declaração de justiça por parte de Deus há de se efetivar no futuro, e que, no presente, o homem só possui uma declaração do que posteriormente se dará. Não é assim a justificação.
"A justificação é uma declaração de Deus a respeito da condição da nova criatura perante Ele"
Todos quantos crerem recebem poder para serem feitos filhos de Deus, filhos nascidos não da vontade da carne, nem da vontade do varão ou do sangue. Estes são nascidos do Espírito, criados segundo Deus em verdadeira Justiça e Santidade ( Jo 1:12 -13).
Visto que, somente aqueles que nascem em justiça e santidade são verdadeiros, são declarados justos diante de Deus ( Ef 4:24 ). Deus é justificador daqueles que crêem em Cristo.
O salmista só podia reconhecer os seus erros como forma de declarar a justiça de Deus. Qualquer homem não pode ir além do que fez o salmista.
Deus, porém, antes de declarar o homem justo faz algo extraordinário: a pena predeterminada é aplicada sobre os culpados (morte), gera uma nova criatura por meio do seu poder (o evangelho), e declara o novo homem justo diante d’Ele.
Através da justificação a multiforme sabedoria de Deus torna-se conhecida entre os principados e potestades!
Como Davi utilizou a palavra 'justificação'
Através da citação do salmista Davi é possível dimensionar a extensão das expressões ‘justificar’ e ‘justificação’, resta que os cristãos deveriam considerar como sendo certa a morte deles com Cristo ( Rm 6:2 -3 e 7 e 11), e que, da mesma maneira é certa a justificação deles, visto que, aquele que está morto também está justificado.
Aplicação prática da palavra 'Justificação'
Apalavra ‘justificado’ é empregada pelo salmista Davi para dar a conhecer aos seus leitores que Deus é justo (justificado). Como o salmista sabe que Deus é justo, isto motiva o salmista a reconhecer os seus próprios erros. Desta forma verifica-se que a palavra ‘justificado’ (declarar justo) somente se aplica ao que é verdadeiro em essência.
Parece ser redundante, porém não é. Davi declara que Deus é justo porque Ele é verdadeiramente justo.
O apóstolo Paulo ao declarar que 'Deus é verdadeiro' se fundamenta na declaração do rei Davi. Ou seja, ao declararmos algo que diz respeito ao nosso Deus, temos plena consciência de que é verdadeiro, pois assim a Escritura nos diz.
Chegamos a um ponto crucial: se Paulo utiliza a palavra ‘justificado’ (declarar justo) para expressar algo a respeito dos cristãos, tal declaração também deve ser verdadeira.
Não há como declarar que alguém está justificado, sem que esta pessoa não seja efetivamente justa. Ou seja, os cristãos haviam morrido “Nós, que estamos mortos para o pecado...”, e foram declarados justos “... porque aquele que está morto está justificado do pecado”.
Quando o apóstolo Paulo escreve que os cristãos foram declarados justos, ele não faz referência a uma anistia, ou a uma absolvição, ou a uma concessão, ou a ter em conta ou a um faz de conta. Paulo faz referência a algo que é pleno de todo: aquele que está morto está justificado.
Quem não é cristão não faz jus a tal declaração, pois é certo que este não morreu para o pecado. É possível que alguma pessoa que não esteja inclusa no pronome da primeira pessoa do plural de Romanos seis, verso dois ‘Nós...’ ( Rm 6:2 ), receba a declaração de que é justa? Não! Por quê? Porque esta pessoa não esta morta para o pecado!
Quem não está morto para o pecado não pode ser justificado (declarado justo), pois tal afirmação não seria verdadeira.
Não há como aplicar a palavra ‘justificado’ a quem não morreu, visto que todo aquele que é nascido da carne, não é verdadeiro“... e todo o homem mentiroso como está escrito” ( Rm 3:4 ).
Todos os homens nascidos de Adão não são verdadeiros, porém Deus é verdadeiro.
A condição daquele que não esta em Cristo é mentira, em contrate com Deus, que é verdadeiro "Mas, se por causa da minha mentira sobressai a verdade de Deus para a sua glória..." ( Rm 3:7 ).
Ao citar o salmo 51, verso 4, o apóstolo Paulo estabelece o parâmetro necessário para compreendermos a extensão da palavra ‘justificar’ quando ela é empregada por ele.
O apóstolo Paulo só utiliza a palavra ‘justificar’ para algo que é categoricamente verdadeiro. Se houvesse uma sombra de dúvida, ou uma possibilidade daquele que está morto não estar justificado perante Deus, então Paulo não utilizaria a palavra 'justificar'.
É certo que ‘justificar’ não se refere a uma conduta divina condescendente em declarar um injusto como sendo alguém justo.
É possível a Deus, que é verdadeiro, declarar justa uma pessoa não justa? Concluiremos de outro modo: Deus não justifica aquele que está vivo para o pecado.
Já que, através da citação do salmista Davi é possível dimensionar a extensão das expressões ‘justificar’ e ‘justificação’, resta que os cristãos deveriam considerar como sendo certa a morte deles com Cristo ( Rm 6:2 -3 e 7 e 11), e que, da mesma maneira é certa a justificação deles, visto que, aquele que está morto também está justificado.
Se Paulo recomenda aos cristãos que assumam efetivamente a condição de mortos para o pecado ( Rm 6:11 ), é porque precisavam estar cônscios de que estavam plenamente justificados perante Deus “Sendo, pois, justificados pela fé...” ( Rm 5:1 ).
Os cristãos são justos perante Deus pelos seguintes motivos:
a) É Deus quem nos justifica “É Deus quem os justifica” ( Rm 8:32 );
b) Temos paz com Deus, evidência real de que fomos justificados pela fé “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” ( Rm 5:1 ), e;
c) Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, pois fomos plenamente justificados “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus...” ( Rm 8:1 ).
Não está justificado aquele que pesa sobre ele condenação. Não está justificado aquele que ainda está em inimizade com Deus. Não está justificado aquele que não confia em Deus, que pode justificá-lo.
Se um pseudocrístão não crê no que Deus já lhe providenciou gratuitamente, resta que esta pessoa não crê em Cristo Jesus, pois todas estas bênçãos foram providenciadas na cruz.
O apóstolo demonstra que só é justificado aquele que está efetivamente morto para o pecado, e recomenda aos cristãos que se conscientizassem de tal condição ( Rm 6:11 ).
Só aqueles que foram crucificados com Cristo, plantados com Ele, sepultados pelo batismo na morte e que ressurgiram com Ele, é que são justificados.